OCUPA E
RESISTE
Expressões ideológicas e cotidianas no pós-greve:
Uma mostra de intervenções estudantis enquanto performances
INTRODUÇÃO
Os recentes fenômenos ocorridos na atual situação política brasileira - o impeachment da presidenta eleita Dilma Rouseff, o sucedente golpe do presidente em cargo Michel Temer e a PEC do fim do mundo - resultaram numa explosão de união estudantil em forma de protesto e, com isso, se deu início o processo de ocupação em vários colégios de ensino médio e universidades ao longo do País. A UFC não foi exceção. Na Assembleia Geral dos Estudantes, realizada no dia 3 de novembro de 2016 e, com a adesão de quase 30 cursos, foi decretada greve estudantil e ocupação dos campi.
É nesse contexto que se inserem o Benfica (Centro de Humanidades II) e o PICI (Instituição de Cultura e Arte), naturais para nós, alunos de Comunicação.
Foi no dia 7 de novembro que se deu início a ocupação desses campi por grande maioria dos cursos lá alojados. Com seus ideais, os estudantes fizeram da Universidade a sua morada temporária e, por consequência, foram deixando suas essências intervindo nesses prédios.
Este trabalho pretende relacionar a entrada, estadia, saída e convívio diário pós-ocupação dos estudantes com as intervenções feitas por eles nesse ambiente, tratando-as enquanto atividades performáticas.
INTERVENÇÕES ENQUANTO PERFORMANCE
Em primeira instância, faz-se necessário contextualizar um pouco sobre performance:
" 'performance':
Execução
Desempenho
Façanha, proeza
Representação
Função
Espetáculo
Atuação
Capacidade de realizar trabalho
Rendimento;
Maneira de reagir ao estímulo
Cumprimento de uma promessa
Equivalente a competência
Dicionários consultados:
Longman, Inglês - Inglês
Michaelis, Inglês - Português
A.B. Holanda Ferreira". (SCHECHNER, Richard. "O que é performance?", em Performance Studies: an introduction, second edition. 2006. p. 01)
"Uma performance pode ser definida como toda e qualquer atividade de um determinado participante em uma certa ocasião, e que serve para influenciar de qualquer maneira qualquer dos participantes. Tomando um participante em especial e sua atuação como ponto básico de referência, podemos nos referir aqueles que contribuem para as outras performances como o público, os observadores, os outros participantes." (GOFFMAN, Ervin. "The presentation of self in everyday life". 1959. p. 15-16)
A ocupação da UFC foi um ato político realizado pelos estudantes. Sendo divulgado pelos mesmos ou pelos veículos de comunicação. Páginas foram criadas, atualizações diárias, programações semanais, oficinas, rodas de conversa, entre outros. Os estudantes demonstraram, pelo menos, seis das oito definições mencionadas na primeira citação. Eles fizeram e se mostraram fazendo. O que inicialmente foi algo novo, acabou virando rotina com o passar dos dias. Acordar entre companheiros de luta, dividir banheiros, limpar o espaço, organizar as pessoas e preparar as atividades do dia se tornaram o dia a dia desses estudantes. Enquanto performance, pode-se observar dois aspectos:
- o ponto básico de referência de alguns estudantes que chegaram antes para ocupar os espaços e que foram trazendo outros com o tempo. As ações atribuídas a esses estudantes foram convencimento para que outros colegas se juntassem à luta;
- foram 42 dias de ocupação e, portanto, para os estudantes presentes, a Universidade, que já fazia parte do cotidiano, virou lar. A rotina também pode ser considerada performance, de sua maneira bem simples. O cotidiano é performance, apesar dele nunca ser igual. Cada dia tem detalhes ínfimos que o torna único.
São por essas demonstrações diárias de performance que chega-se ao ponto principal: os frutos físicos que elas proporcionaram para a vivência da Universidade. Todas e quaisquer manifestações ideológicas podem ser tratadas enquanto performance e a parede dos dois campi estão lotadas delas. E é nesse ponto que se tornam a demonstração mais importante das performances dos estudantes. A greve acabou, iniciou-se o período de desocupação e, portanto, os alunos voltaram para as suas respectivas casas. O que permaneceu, entretanto, foi a sua representação física performática: os pichos, os desenhos, as colagens, as mudanças nas cadeiras do prédio e os objetos deixados.
Todas essas representações permaneceram e continuarão à vista de todo e qualquer estudante que adentrar nos campi. Tornando-se, agora, mais um objeto na performance dos outros estudantes dos prédios, que passarão por essas intervenções cotidianamente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse trabalho prático foi feito com o propósito de expor e preservar essas intervenções físicas feitas pelos estudantes do Centro de Humanidades II e do Instituto de Cultura e Arte da Universidade Federal do Ceará. Que essas expressões, enquanto performativas, sirvam para lembrar que os estudantes estão ativos, estão organizados e estão em luta.
OCUPA. OCUPA. OCUPA E RESISTE!